sexta-feira, 24 de julho de 2009

O trem no filme funciona como uma metáfora da vida e do tempo. Por ele seguem viajantes que olham para a janela do mundo e sonham com coisas próximas, com coisas distantes, com o que já passou e com o que está adiante.
Fotografar, filmar, registrar essas múltiplas realidades é aceitar o desafio de se deixar levar por uma fronteira real e imaginária. É se deixar conduzir por um tempo que não é somente o tempo do presente, mas é um tempo carregado do passado e sugestionado pela necessidade do futuro. É estar aberto para as realidades “invisíveis” que as pessoas trazem dentro de si. Como diz Roland Barthes, “uma foto é sempre invisível: não é ela que vemos”. Enxergar esses outros mundos dentro das imagens é um exercício de desprendimento da imposição da nossa forma de ver o mundo para aceitar outras formas de ver e estar no mundo.
O trem guarda na sua trajetória material os traços, os registros daqueles que passaram por ele, inclusive os traços da própria cineasta que se propõe nesse filme a também revelar um pouco das suas memórias relacionadas ao trem ou desencadeadas pela situação de viajar no trem, sendo uma das personagens enfocados no trabalho.
O “Sol Sangra” se compõe de narrativas sustentadas por paisagens imaginárias e memórias incrustadas nas experiências de vida, sendo um exercício de entrada na janela das ficções que formam a realidade.

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